Quarta-Feira, 18 de Outubro de 2017 - Hora:09:40

Terapia genética para o câncer deve chegar ao Brasil em 2018

Salto estratégico na oncologia, terapia capaz de ensinar células do sistema imune a lutar contra o tumor deve chegar ao país no ano que vem. Hospital em São Paulo já prepara infraestrutura.

 

A estratégia de editar geneticamente nossas células de defesa para que elas "aprendam" a combater o câncer parece não estar tão longe do alcance dos brasileiros. Aprovada comercialmente nos Estados Unidos no final de agosto, a terapia que promete ser um salto importante na oncologia está na mira de vários centros de saúde no país e um deles reuniu condições para trazer a terapia no ano que vem -- depois de levar pacientes brasileiros para instituições de excelência fora do país.

 

Foi o que aconteceu com Márcia D'Umbra, de 50 anos, que venceu um melanoma agressivo após se submeter a esse tipo de tratamento em Israel 

 

Enquanto o Inca (Instituto Nacional do Câncer), público, que tem estudos em cobaias com a terapia desde os anos 1990, busca financiamento para levar a terapia adiante, o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, privado, anuncia que deve fazer os primeiros tratamentos experimentais no Brasil em 2018. O hospital separou uma sala especial para isso e já tem pesquisadores em treinamento nos Estados Unidos. A ideia é ser o primeiro centro de terapia genética do câncer na América Latina.

 

O investimento do Einstein para começar a terapia por aqui está avaliado em US$ 7 milhões (mais de R$ 22 milhões) -- com US$ 2 milhões (cerca de R$ 6,3 milhões) destinados a uma sala especial de esterilização. "É uma estimativa genérica porque, mais importante que a infraestrutura, vão ser os investimentos em pesquisa", diz Wilson Pedreira, diretor do Centro de Oncologia do Einstein.

 

Fora do país, o custo dos tratamentos para os pacientes gira em torno de US$ 300 mil (cerca de R$ 945 mil), como mostra detalhamento abaixo.

 

O Hospital Sírio-Libanês e o A.C Camargo, outros centros de referência no tratamento do câncer no Brasil, e nenhum dos dois apresentou projetos a curto prazo para implementar essas novas terapias. "As barreiras são financeiras e tecnológicas", disse Yana Novis, coordenadora de onco-hematologia do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.

 

A primeira das novas terapias para o câncer que deve chegar ao Einstein é a TIL, indicada para o melanoma. Mais para frente, serão disponibilizados protocolos de CART-Cell, imunoterapia que tem apresentado bons resultados em leucemias. Essas terapias, no entanto, ainda deverão ser regulamentadas por órgãos reguladores e comitês de pesquisa.

 

De qualquer modo, segundo especialistas ouvidos pela reportagem, não se trata de anunciar uma terapia longínqua, fruto de um otimismo um tanto precipitado: de fato, a imunoterapia genética, façanha que desde os anos 1980 tem sido apontada como o "sonho" da medicina no câncer, pode ser a diferença entre a remissão e a cura no tratamento de tumores no país.

 

Trata-se de um salto estratégico, muito mais que apenas mais uma novidade em tratamentos. A medicina com a imunoterapia genética tem a possibilidade de fazer com que o corpo "aprenda" a combater o tumor caso ele volte -- técnica que é bem diferente de eliminar células cancerígenas por meio de cirurgia ou quimioterapia.

Não à toa, o número de estudos clínicos que investigam a nova estratégia é alto e, se considerarmos os números de estudos ainda em andamento, a probabilidade de novas descobertas serem feitas nos próximos anos é ainda maior.

 

Em consulta feita no dia 20 de setembro no clinicaltrials.gov, plataforma que cadastra estudos clínicos em todo mundo, havia o registro de 382 estudos com CART-Cell, com 195 deles recrutando pacientes e 75 deles completos.

 

Como qualquer nova terapia, contudo, os desafios também são novos -- muitos deles desconhecidos da oncologia até agora.

 

As principais estratégia 

Disponível apenas para alguns tipos de câncer, são três as principais estratégias de terapias celulares: CART-Cell, para leucemia; T CELL "Engendrado", para melanoma e sarcoma; e TIL, usada também para o melanoma. Confira como funciona cada uma delas:

 

1 - CART-Cell

A estratégia da CART-Cell consiste em habilitar linfócitos T, células de defesa do corpo, com receptores capazes de reconhecer o tumor. O ataque é contínuo e específico e, na maioria das vezes, basta uma única dose.

 

Indicações até agora: Linfomas e leucemia linfoide aguda (o câncer mais comum em crianças). Nas leucemias em crianças, a taxa de sucesso dessa terapia é alta (superior a 50%, em média).

 

Onde o processo está mais avançado: Estados Unidos.

 

Preço: Os processos são experimentais. Nos Estados Unidos, no entanto, é possível pagar para entrar no protocolo. Por lá, a terapia sai por US$ 300 mil (cerca de R$ 945 mil), em média.

 

2 - T CELL 'Engendrado'

O processo é parecido com o do CART-Cell. A diferença aqui é que, enquanto a célula de defesa reconhece antígenos (partícula que deflagra a produção de um anticorpo específico) na superfície do tumor, o T CELL engendrado é capaz de reconhecer antígenos mais profundos, que são processados e apresentados na superfície da célula cancerosa.

 

Onde está sendo estudado: National Institute of Health (Estados Unidos).

Indicações com mais sucesso até agora: Melanoma (câncer grave de pele) e Sarcoma sinovial (tumor das partes moles).

Estimativa de custo: Não há ainda. Os resultados são bem preliminares, mas há pacientes aparentemente curados com essa técnica.

 

3 - Terapia 'TIL' 

O processo consiste em retirar o tumor do paciente e extrair as células de defesa (linfócitos T que infiltram o tumor), cultivá-las em laboratório, expandir em grande quantidade e depois reinjetá-las no paciente.

Ao contrário do CART-Cell, não há terapia genética, e o processo tende a ser mais seguro (embora ainda seja bem mais complicado que as terapias convencionais).

Onde está sendo estudado: Israel, Holanda e Estados Unidos; no Brasil, o Hospital Israelita Albert Einstein planeja iniciar os tratamentos dos primeiros pacientes em 2018.

Indicação: Melanoma, com taxa de cura em torno de 30% dos casos.

Preço estimado: US$ 200 mil em Israel (cerca de R$ 630 mil).

 

Um caso de cura

 Ava Christianson já tinha passado por várias rodadas de quimioterapia e estava pronta para mais uma. Acabou se tornando um dos casos mais repercutidos de cura pela nova terapia chamada de CART-Cell.

 

O procedimento, de acordo com reportagem do "The Washington Post", demorou cinco minutos no Centro Clínico dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH) -- na época, a garota tinha 8 anos e convivia com a doença desde os 4 anos. A remissão da doença começou um mês depois.

 

O rápido procedimento passado por Christianson é a injeção de suas próprias células T, parte fundamental do nosso sistema imunológico. Elas foram modificadas para rastrear e matar as células tumorais.

 

 

 

Regulamentação 

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informa que não houve um pedido formal para o uso da terapia genética no Brasil. Com isso, as terapias celulares seriam aplicadas em caráter experimental – nesse caso, sob a supervisão do Conep (Comitê Nacional de Ética em Pesquisa), que deve aprovar o protocolo em que cada terapia será utilizada.

 

Para deixarem de ser experimentais, os serviços deverão pedir aprovação na Anvisa e também passar pela Comissão de Novos Procedimentos do Conselho Federal de Medicina.

 

Além disso, mesmo quando aprovadas, as terapias celulares só serão usadas em pacientes que não responderem aos tratamentos tradicionais, já que se trata de um processo mais invasivo e extremamente complexo.

 

Preços e desafio para o SUS

 O preço da terapia celular fora do país está avaliado em US$ 300 mil (cerca de R$ 945 mil), em média -- um valor que tem por base o preço do transplante de medula óssea.

 

Segundo Martin Bonamino, do Inca, apesar de aparentemente alto, o custo da terapia não está tão fora do conjunto de terapias mais modernas para o câncer. Medicamentos como o "Trastuzumabe", por exemplo, terapia biológica usada para o tratamento do câncer de mama, tem um custo que varia de R$ 20 mil a 30 mil mensais.

 

A terapia genética ainda teria uma vantagem quanto ao número de sessões necessárias: o trastuzumabe geralmente é usado por 18 meses; já a maior parte das terapias celulares em andamento tem potencial para serem utilizadas uma única vez.

 

Bonamino indica que o maior desafio será a chegada dessas terapias no sistema público. Para serem ofertados no SUS, diz ele, uma alternativa seria a fabricação dessas terapias no Biomanguinhos (laboratório público ligado à Fiocruz). "É fundamental que a gente tenha a capacidade de também produzir esses tratamentos por aqui", diz.

 

Fonte: G1

 
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